terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

avô

Ainda me lembro do baloiço e do escorrega que mandaste fazer para nós. As tuas mais que tudo. Fizeste-os na fábrica onde tinhas tantos anos trabalhado e com o teu próprio suor. O baloiço era vermelho e só dava para andarmos uma de cada vez. O escorrega era verde. Tínhamo-los na nossa casa de férias ao pé da praia e foram muitos os dias que passámos a brincar com eles. Peço-te desculpa por não me lembrar da exata ocasião em que no-los deste. Não sei se foi em agosto pelos nossos aniversários ou se pelo Natal ou noutro dia qualquer apenas por surpresa. Sei sim, que nos fizeste muito felizes nesse dia e nos outros todos que se seguiram. Crescemos a aprender a partilhar o baloiço. Descobrimos com o tempo que o baloiço servia não só para baloiçar mas também para trepar e que por vezes podia até ser perigoso. Deturpámos todas as formas naturais de andar de escorrega. Subíamo-lo ao contrário, descíamos nele de cabeça para baixo, brincávamos em cima dele com as nossas bonecas, enfim. São muitas as memórias que tenho à volta do baloiço e do escorrega. No entanto, passados alguns anos, deixámos de brincar com o baloiço e o escorrega e os nossos pais tiraram-nos do jardim. Já estavam ambos bastante enferrujados mas essa decisão custou-me muito. Afinal, era como se dois amigos se nos despedissem de nós por termos crescido e perdido naturalmente o interesse por eles. Ao longo dos anos eles foram sendo o cenário para imensas fotografias da nossa infância. Às vezes apareço eu sentada no baloiço e a minha irmã pendurada ao meu lado. Outras vezes aparecem os nossos pais, um de cada lado do baloiço e nós ao meio. Outras vezes aparecemos nós ao vosso colo, teu e da avó, no baloiço. Passados mais alguns anos, tivemos de nos despedir outra vez, mas desta vez de ti. Ficaste muito doente e foste embora. Porém, eu sei avô que, onde quer que estejas agora, estás à nossa espera com o baloiço e o escorrega perto de ti, pronto para brincar connosco, como sempre fizeste.


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